"Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro. "
Sigmund Freud, "Sobre a Psicoterapia", 1904.
"Seu microfone está desligado."
"Aqui travou."
"Não estou te ouvindo."
"Não entendi, repete?"
"A campainha tocou."
"Meu cachorro está latindo."
"A criança entrou."
"Você tá aí?"
Os atendimentos online têm seus desafios. Interrupções, ruídos, instabilidades. Mas é por esse meio que muitas pessoas seguem sustentando seus processos terapêuticos — e é nele que seguimos insistindo.
Insisto na minha análise, e insisto na análise dos meus pacientes. Sessão após sessão, vamos construindo um espaço possível, mesmo atravessado por barulhos e silêncios.
A internet, com todas as suas falhas, também é ferramenta.
Graças a ela, hoje posso escutar pessoas em diferentes cidades, países e fusos. Mas nada disso funcionaria sem a disposição mútua de permanecer presente, mesmo à distância — inteiro dentro do processo, mesmo que por duas telinhas coloridas.
A Psicanálise é um modo de escutar aquilo que, mesmo sem ser dito, insiste em falar.
Criada por Sigmund Freud, ela é, ao mesmo tempo, um método de investigação do inconsciente, uma prática clínica e um caminho de pesquisa sobre o sujeito.
Parte da ideia de que o inconsciente marca nosso modo de ser — e que algo dele, embora inacessível por completo, se revela nos sonhos, nos atos falhos, nos esquecimentos e repetições. E esse algo que escapa, esse fragmento enigmático, que pode ser interpretado no encontro com um psicanalista.
A escuta psicanalítica se faz pela palavra. Ao convidar quem fala a dizer tudo o que vier à mente — mesmo que pareça estranho ou sem sentido — abre-se espaço para que algo de si se desvele.
Não se trata de oferecer respostas prontas ou soluções imediatas. A Psicanálise não apaga sintomas, mas propõe outra relação com eles: uma possibilidade de escuta, elaboração e transformação.
Ela aposta na potência da palavra e na singularidade de cada sujeito para que, em vez de repetir um sofrimento, seja possível construir um novo modo de estar no mundo.